domingo, 15 de novembro de 2009

Sinal de trânsito é palco de malabarismos


Arte circense é executada como forma de vida por malabarista que busca, também, novas experiências



Anny Rochelly

Não se preocupar com o futuro e acreditar no presente. Este é o lema de Damião Marcelo, 27 anos, malabarista de Surubim – PE, formado pela “Companhia Pernas para Circular”, de Caruaru. O artista, que já foi técnico eletrônico, faz, desde outubro, malabares com claves ou tochas de fogo em um semáforo, na Avenida Rotary, uma das mais movimentadas da parte alta de Maceió.

As apresentações são realizadas todas as noites, das 18 às 22 horas. É quando Damião consegue recolher o dinheiro de seu sustento. Segundo o malabarista, as oportunidades estão surgindo e seu trabalho está sendo reconhecido. “Quando estou aqui no sinal, muitas pessoas perguntam o número do meu celular para me contratar para eventos. No Dia das Crianças, por exemplo, consegui um bom dinheiro para a viagem que pretendo fazer para Caruaru, em dezembro”.

Para executar seu trabalho, Damião utiliza claves (produzidas por ele mesmo) embebidas em gasolina, as quais ele acende com um isqueiro comum. Parece simples, mas na prática, o resultado é uma bela apresentação de se contemplar.

Os motoristas que param no sinal vermelho se divertem com as apresentações e falam sobre o trabalho de Damião: “A gente para aqui e ele sempre fala: ‘Saúde e paz! ’. Sabe, isso deixa a gente mais leve depois de um dia tão estressante no trabalho”, conta com orgulho um dos inúmeros admiradores do artista.

Damião conta que, nesses dois anos de viagem pelo Nordeste, conheceu vários amigos que muito acrescentaram em suas experiências de vida. Foi quando decidiu largar a profissão de técnico para mergulhar na arte. “Nas viagens, há um intercâmbio de informações, você faz novos amigos de todos os lugares que você imaginar. Na última cidade em que estive, por exemplo, conheci uruguaios e argentinos, isto é, pessoas de culturas diferentes e que acrescentam coisas boas na sua vida”, conta o malabarista.

Já na passagem por Maceió, pretende ficar por algum tempo, mas ainda não sabe quanto. “Não pretendo me programar muito com relação ao futuro, tenho muita fé nas coisas que estão acontecendo agora”, afirma.

O malabarista já visitou Campina Grande, Caruaru, João Pessoa, Natal e, agora, Maceió. Todas as viagens dele são feitas individualmente e custeadas pelo seu trabalho circense. Aqui em Maceió, o artista está hospedado na casa de uma amiga, no bairro da Ponta Verde. Mas ele conta que já chegou a passar uma semana dormindo na rua, na cidade de Natal - RN, por falta de amigos no lugar. “Logo depois, encontrei um amigo malabarista e a gente dividiu o aluguel de uma casa”, explica.

O artista mora sozinho em Caruaru e tem uma filha de 10 anos. Apesar da saudade bater forte, a volta para casa só é realizada de dois em dois meses. Mesmo assim, Damião diz que adora esse estilo de vida; acredita que o trabalho executado por ele, no mesmo sinal há quase dois meses, já está ficando cansativo. Não sabe que a arte de encantar as pessoas em locais tão inusitados, como um sinal de trânsito, demonstra uma energia positiva imensurável, além da crença em algo maior e melhor do que a nossa vida cotidiana.

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