segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os bastidores da reforma no Teatro Deodoro




Anny Rochelly

O Teatro Deodoro comemorou seus 99 anos de existência no último dia 13 de novembro a portas fechadas. Isso mesmo. Com uma programação voltada para a música e a poesia, o evento teve que ser realizado no pátio externo do Teatro por causa de irregularidades no cumprimento do contrato da construtora responsável pela reforma do Teatro.

A história, que até hoje não teve fim, começou em dezembro de 2007, quando o Teatro teve decretada a suspensão de seu funcionamento devido a um laudo expedido pelo Corpo de Bombeiros. Em abril de 2008, a Construtora Planecon LTDA assumiu a reestruturação do piso, forro e teto da Casa, mas não entregou a obra no prazo estabelecido – inicialmente de 90 dias -, solicitou uma renovação de contrato e ainda assim não cumpriu com a sua obrigação, abandonando a reforma em dezembro do mesmo ano.

As obras ficaram paradas até meados de outubro de 2009, tempo em que a Planecon entrava com recursos administrativos, solicitações de adiamento da reforma, entre outras ações que atrasariam a tão sonhada reabertura da Casa. A partir daí, uma nova empresa foi contratada, a A-Quatro Arquitetura e Construções LTDA, agora com um prazo de noventa dias para a conclusão dos serviços inacabados pela primeira construtora.

Além dos serviços básicos, serão implantados sistemas anti-pânico e anti-incêndio no Teatro, sem esquecer a reforma no Salão Nobre, a restauração das cadeiras e poltronas, a troca dos carpetes, veludos e cortinas e a instalação de novos equipamentos de som e iluminação. Pois é, se em quase dois anos a reforma da instituição não saiu do piso, forro e teto, imagine o tempo que será necessário para que se atinjam todos os itens aqui listados? E é importante lembrar que, em fevereiro de 2007, pouco antes do fechamento, o Teatro Deodoro já tinha sido submetido a uma reforma, ainda que de menor porte.

E os questionamentos não param por aí. O Teatro Deodoro é considerado o maior palco das artes do Estado, no entanto a burocracia não deu trégua nem para o setor cultural de Alagoas. A mania do alagoano (leia-se brasileiro) de ‘passar a mão’ na cabeça dos poderosos, ainda que esta atitude menospreze o bem-estar da população, não se abateu com o grande título de ‘patrimônio cultural de Alagoas’, cedido gentilmente ao Teatro Deodoro.

É de surpreender qualquer cidadão a morosidade dos órgãos fiscalizadores e a proteção às grandes empresas envolvidas em irregularidades. A posição de conformismo, isto é, de achar suficientes os serviços básicos de assistência à população (como saúde e educação) são um reflexo da política do “rouba, mas faz”, adotada por grande parte da população. Ter direito a programas culturais de qualidade e viáveis, economicamente falando, é o mínimo que se pode oferecer às pessoas.

Portanto, o trabalho de fiscalização também é nosso e o interesse de ter mais uma Casa voltada para a cultura à nossa inteira disposição deve ser uma luta constante. O fato é que a assessoria do Teatro Deodoro garante a abertura da Casa antes da comemoração do centenário. E cabe a nós acompanhar os próximos capítulos dessa novela.

5 comentários:

Anônimo | 19 de novembro de 2009 às 23:57

Alagoas é um dos Estados mais belos do país, suas belezas naturais são maravilhosas e sua diversidade cultural é fascinante, é um pena que completando 99 anos nossa maior e mais bela casa de espetáculos esteja fechada, fechada por descaso das autoridades constituídas...
Mas enfim , a sociedade alagoana espera que na comemoração de 100 anos possa desfrutar desse espaço que tanto faz falta as artes, aos artistas e ao povo de alagoas. Viva o nosso grandioso Teatro Deodoro!

Anônimo | 20 de novembro de 2009 às 08:12

Os problemas do Teatro Deodoro vão muito além da reforma física do seu prédio. Sendo artista e utilizando aquela casa para realizar sapresentações, percebo que todo o entorno do Teatro precisa de uma reforma. Nos últimos dois anos que apresentamos espetáculos lá, além dos inúmeros problemas que enfretamos dentro do teatro como: camarins quebrados, ar condicionado pifando minutos antes do espetáculo (tivemos que fazer a apresentação com as portas abertas)entre outros, tínhamos que contratar seguranças particulares para garantir a saída dos pais de nossas alunas para que não sofressem assaltos ou vandalismos em seus carros. A insegurança começou a imperar no local e percebemos que muitas pessoas já não queriam frequentar as apresentações que eram realizadas no Deodoro. Participamos de algumas reuniões com a diretoria do Teatro, artistas e comerciantes do entorno para discutirmos ações para a revitalização da área, mas o que vi foi um jogo de empurra entre as autoridades envolvidas e pouca iniciativa de realizar atitudes efetivas na solução dos problemas levantados para essa revitalização do Teatro Deodoro. Penso que somos passivos (comunidade artística, sociedade) em nos posicionarmos para cobrar a abertura e melhoria do local e sei que, a burocracia e as falcatruas que envolvem as grandes obras públicas, empacam o andamento de qualquer projeto. Estamos numa boa hora para que os Fóruns de dança, teatro, música e artes visuais se articulem e mobilizem-se para sugerir, colaborar, cobrar e exigir a finalização dessa obra e da melhoria do entorno do Teatro Deodoro. Que em 2010 tenhamos, realmente, o que comemorar no centenário do nosso querido Teatro Deodoro.

Ábia Marpin | 20 de novembro de 2009 às 17:58

Sem esquecer do movimento Sou Artista, LUTO!?, que reuniu artista de vários segmentos e mobilizou o Abraço ao Deodoro para chamar a atenção para este problema seríssimo, descaradamente usado pelas autoridades (i)responsáveis pela reforma do Teatro como um ato de carinho inocente, para não dizer imbecil...

Anônimo | 22 de dezembro de 2009 às 23:25

Faltou mesmo falar do Sou Artista, LUTO!? O movimento reuniu gente suficiente para fechar um Abraço ao redor do Teatro Deodoro como forma de protesto pela paralisia da obra. Encaminhamos ao governo documentos subscritos por 100 assinaturas de cidadãos e de 24 grupos e instituições artístico-culturais. Não creditar a retomada da obra à pressão exercida pelo movimento é complicado.
O governo assumiu publicamente o compromisso de ter o Deodoro aberto no final de maio início de junho de 2010.
Udson Pinheiro

Anônimo | 19 de março de 2010 às 02:29

Agente sempre a espera de uma amanhã mais consciente... Vale a pena pressionar. parabensssss

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