quarta-feira, 1 de abril de 2009

é a mãe!


é a mãe!
| Por Fernanda Café

Fernanda Café é a mãe da Bula. Não, sério, ela diz que durante toda a graduação, só fez duas coisas que prestassem: o filho e a revista. Por isso, é meio monotemática nos textos e tem essa coluna pra falar do filho dos outros. Do dela, ela fala aqui (pra ler, diga credo em cruz ave maria treis veiz e mande um e-mail pra ela).

e-mail: [ nandacafe@gmail.com ]

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Mamada polêmica



Que a amamentação causa desconforto em pessoas dos países lá de cima, não é novidade. As mães que optam por isso são obrigadas a buscar ações judiciais para poderem fazê-lo em público porque, afinal, alimentar um bebê com aquilo que a natureza preparou especificamente para ele é algo imoral e pervertido, devendo ser feito no banheiro dos fundos; comer no banheiro é super normal e higiênico, todos deveriam fazê-lo.

No Brasil, a amamentação não é tão controversa. Claro, sacar os peitos no ônibus pode gerar um ou outro olhar atravessado (ou interessado), mas dificilmente a mãe será convidada a esconder-se em outro lugar para continuar o aleitamento. Por isso, as reações dos brasileiros mediante o lançamento da boneca Bebé Glotón foram, no mínimo, inesperadas.

Trata-se de uma boneca (ou um boneco, está disponível em ambos os sexos) bebê que é acompanhado de uma blusa para ser colocada por quem estiver fazendo o papel de mãe. Flores no lugar dos mamilos emitem um som de sucção quando o bebê choroso se aproxima, e quando saciada, a boneca deve ser colocada para arrotar. Assim:



Desde que o mundo é mundo meninas brincam com bonecas. A representação de papéis faz parte do desenvolvimento do sexo feminino, que está se preparando para assumir a posição de mãe. É só jogar no Google que surgirá uma sólida base teórica para fundamentar que isso é saudável e necessário. Alguns sites disponibilizam uma certidão de nascimento para as bonecas, bonecas essas que tremem de frio e até mesmo fazem cocô.

O Bebé Glotón nem está disponível para venda no Brasil, mas causou polêmica por aqui na ocasião de seu lançamento além-mar. Em um dos sites que noticiou o fato, os comentários perpassam desde a aprovação com louvor até a reprovação total. Os argumentos que sustentam a segunda opinião geralmente são os de que “estimula a sexualidade precoce das crianças”. Curiosamente, se você perguntar a uma pessoa que reprove tal boneca se ela presentearia uma menina com uma Barbie (ou Suzie, ou Polly) ao invés de um Bebé Glotón, em uma quase totalidade dos casos a resposta seria afirmativa.

Epa! A Barbie não é aquela boneca magra, loira, alta, com uns peitos enormes? Peitões esses, aliás, que nunca foram usados para amamentar, já que Barbie nunca teve mamilos (tachar) filhos? Em que realidade distorcida a amamentação induz a sexualização precoce de uma menina, e uma Barbie, com seu delicioso (ex-) marido (vendido separadamente), não? Se formos adiante na comparação, tal boneca não só estimula a sexualização, mas também o consumismo e a perpetuação de padrões estéticos inalcançáveis.

“Mas uma menina de 5 anos não vê a Barbie como um objeto sexual”, diriam as zelosas mães. Talvez não. Mas uma menina de 5 anos com certeza não vê a amamentação como um ato sexual, e nem deveriam os adultos. Amamentar é um ato fisiológico, tanto quanto tremer, fazer cocô e parir. Alguns vão adiante e dizem que é um ato de amor. Talvez se existissem mais Bebés Glotóns e menos mamadeiras de boneca no mercado de brinquedos, a média de aleitamento exclusivo dos bebês brasileiros poderia ser maior do que 54 dias, quiçá chegando aos 180 dias preconizados pela Organização Mundial de Saúde.

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