sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O telefone tocou e...




 
Anderson Santos

Em meio aos meus devaneios na espera pelo ônibus que demora a chegar, um casal aproxima-se e senta no ponto. Ele na parte de ferro que sustenta as propagandas. Ela, entre as pernas dele.

A moça ao lado desiste de esperar ali que o seu transporte chegue, já que havia passado há cerca de 20 minutos e talvez não viesse outro naquela noite.

Resultado: fico sozinho na agonia dos meus pensamentos, das minhas preocupações, dos meus problemas e da vontade que o ônibus logo chegue para que eu possa dormir no horário tradicional, suficiente para acordar no dia seguinte para mais um dia de trabalho.

Além de me livrar de possíveis situações constrangedoras, afinal, estar num mesmo local com um casal é o mesmo que estar sozinho. O mundo pára as duas pessoas no momento em que estão juntas, aproveitando os últimos momentos de presença mútua num dia.

Tudo isso seria normal se o telefone dela não tocasse. Mas o celular toca, para sua agonia, que se afasta do rapaz angustiada como estivesse fazendo algo de errado. Um “e agora?” sai e ele fica com cara de espanto na espera do que ela fará.

A mulher demora, cancela a ligação na primeira vez. Volta-se ao companheiro, que questiona o que ela vai responder e reclama de aquilo ter ocorrido, deles terem demorado demais. O rapaz olha para mim como se tivesse vergonha de algo. E tinha motivo para isso.

Ela, sem qualquer cerimônia, responde que vai dizer que a patroa atrasou para chegar em casa. Afasta-se e atende à renitente ligação: “A mulher atrasou para chegar do trabalho e eu só pude sair agora. Daqui a pouco eu chego aí”.

Vê-se um alívio no rosto dela. “Pronto”.

Ele volta a observá-la de maneira inquisitória. A resposta dela justifica toda a situação: “Não venha não, que você é casado!”.

Depois dessa, após 30 minutos de espera, o meu ônibus chega e eu deixo o casal de amantes, no sentido popular da palavra, para trás. Conseguiram manter por mais um dia o segredo do relacionamento paralelo, mesmo que o celular tenha tocado numa hora indesejada.

1 comentários:

Anônimo | 7 de março de 2010 às 02:17

Cabra safado.
O amor é cego e nos deixa atraído pelo sonho de estar sendo feliz, até que a ficha cai e o manto da paixão já não aquece mais.
A cortina do espetáculo da vida se abre, para que novas cenas de amor, quantas mais não sei, despontem em busca de novas paixões. Melhor que seja verdadeira... CUIDADO.

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